O QUE TE ESCREVO É PURO CORPO INTEIRO
Leitura crítica da colunista cultural Lara Barjud
No dia 19 de agosto de 2022, no Teatro Torquato Neto, pela programação do Concurso de Monólogos Atriz Ana Maria Rego, assisti à apresentação do espetáculo O QUE TE ESCREVO É PURO CORPO INTEIRO, encenado pelo ator Vitorino Rodrigues, sob direção de Wellington Júnior e texto de Nathan Sousa.
O público, ao fim, aplaudia Vitorino. Cantavam juntos, à luz de lamparinas " Luar do Sertão". O Luar místico e multifacetado (solitário no breu), e a chama instável das lamparinas (que se apagavam em fração de segundos, sopro a sopro) finalizaram o monologo " O Que Te Escrevo é Puro Corpo Inteiro" permitindo a subjetividade fazer nobres reflexões sobre a vida e sobre a falta dela. Dotado de grande veracidade cênica, Vitorino interpreta o Monólogo intercalado de musicalidade e interação com a plateia! O cenário - relíquia, constituído por livros desorganizados e objetos pedagógicos, associada à uma interpretação impecável, mostra a situação de um professor de português que sonha em ser escritor, ou melhor, ele diz não ter sonhos e na minha opinião é sim um exímio escritor!
O personagem sofre de perturbações, oscilações de humor, e seus próprios pensamentos geram conflitos nele que, durante a peça, compensa a solidão e as angústias no alcoolismo.
O monólogo se torna coletivo graças à habilidade de Vitorino com a inserção do seu público, em temas como vida, morte, suicídio e saúde mental, e ensina muito sobre esses temas complexos que devem ser, como foi feito, mais retratados pela arte...
A personagem mostra um perfil existente, não tão raramente, na sociedade: de pessoas com potencial cognitivo / intelectual, porém, com problemas de ordens psíquicas que os inpedem de desenvolver habilidades (como no caso de Vitorino, que tem inteligência notória , porém , muitas perturbações o impediam de escrever, e até de viver...) ou seja, o espetáculo teve grande função social, ao mostrar esse perfil.
E, por fim, foi emocionante poder assistir uma peça tão harmônica, quando, texto, personagem, ator seguiam em conjunto. E a iluminação, por sua vez, ajudava a verbalizar momentos de desespero e de inquietude...
Recomendo o monologo, pois sei que ali o que foi escrito é de corpo inteiro!