O arrebatamento
“O arrebatamento”, consiste nas impressões pessoais do ator Robson Lima, sobre o espetáculo teatral “O que te escrevo é puro corpo inteiro”, com texto de Nathan Sousa, atuação de Vitorino Rodrigues e direção de Wellington Júnior. O espetáculo foi realizado na Casa VR, em 7 de agosto de 2021, localizada na Rua José Odécio Teófilo Silva, 145, Parque Alvorada, Timon-MA.
No dia 7 de agosto de 2021, fui arrebatado de corpo inteiro... Confesso que não tinha grandes expectativas quanto ao espetáculo... Quer saber por quê?
Primeiro porque o ator Vitorino Rodrigues já se transformou em um “selo de qualidade”. Portanto, sabia que aquela peça teatral iria me agradar...
Segundo, porque estava muito ansioso para assistir um espetáculo ao vivo (seguindo todos os protocolos de saúde, claro)... há 18 meses que estava em jejum teatral, quando assisti o último espetáculo, antes da pandemia...
É, meu caro leitor, essa sincronicidade cênica, o tête-à-tête ator-plateia, o face to face, era de fato a minha expectativa...
Mas não é esse o motivo por que te escrevo... Quero te narrar uma experiência que transcorreu meus “eus” espectador/artista/professor...
A começar pela casa onde se realizou o evento... literalmente uma casa!
A penumbra da rua e um silêncio ensurdecedor, deu o toque inicial para emergir uma aura de mistério... querendo ou não, Vitorino Rodrigues e Wellington Júnior (o diretor da peça) preparavam o corpo e a mente de seus espectadores. Senti arrepios e um pouco de medo, envolto naquele prólogo cênico urbano. Mas logo o medo se dissipou, quando o portão daquela casa se abriu e um jovem alto, forte, todo vestido de preto (parecendo um segurança de boate), com sorriso no rosto, disse “Pode entrar, fique à vontade”. Era o ator Francisco Borges, o Chicão. Fui encaminhado ao quintal da casa. Lá já estavam alguns espectadores, sentados, com distanciamento social... Eram os atores Dan Martins, Àllex Cruz e Edson Jr. Em seguida, chegaram duas professoras, amigas de Vitorino... Conversamos um pouco sobre arte e educação, em meio a uma brisa refrescante que pairava naquele momento... ali meu espírito já estava bem leve e creio que o dos demais espectadores, também...
Pronto. O prólogo cênico estava concluído. A plateia já havia realizado o primeiro estágio de sua catarse... todos os problemas e tensões foram deixados do lado de fora daquela casa... Estávamos aptos a submergir no universo literário de Nathan Sousa, com seu “O que te escrevo é puro corpo inteiro”, que ganhou vida pelos corpos e mentes da dupla Vitorino/Wellington.
Fomos convidados a adentrar a casa-teatro. O espetáculo já ia começar. Ou melhor dizendo, já ia começar o segundo ato. Adentrei uma sala escura, toda pintada de preto, fato que contribuiu ainda mais para que me impactasse com a mise en scène ali disposta. Parecia que estava observando o espelho de minha existência, em minha própria alcova.
Não vou descrever os detalhes do cenário ou as movimentações de cena... até aqui já citei muitos spoilers... basta. Vai lá, assistir à peça e tirar as tuas próprias conclusões.
Mas espere, não pare de ler. Ainda quero te contar as sensações que vivi.
Fui envolvido em uma cortina de fumaça de desilusões, de angústias, de frustrações... degustei goles secos de ingratidão, de inveja, de solidão... gritei poemas malditos, ditos maus... praguejei contra o vento... olhei pela janela da vida e vi o que não fui, o que deixei de ser, o que poderia ter sido, o que nunca serei...
Eu,... quer dizer, o Vitorino Rodrigues, ator/professor/dramaturgo/homem/coração pulsante disparava, feito metralhadora, mil palavras “nathanicas” que acertaram precisamente a plateia. Ficamos inebriados.
Mas engana-te de pensar que vivíamos apenas uma experiência masoquista.
De súbito, uma descarga leva embora as incompreensões daqueles 30 anos de “dorcência”...., os murros em ponta de faca passaram a fazer sentido, a erudição adquirida passou a ter um sabor inefável... Ufa!!! Respiramos aliviados!
Mas ainda faltava a cereja do bolo....
Saímos da sala escura e, em outro plano cênico, sob a sombra do luar, ouvi intimamente Moonlight Shadow, de Mike Oldfield, enquanto deseja estar ali, junto ao ator/professor/dramaturgo/homem/coração pulsante, lavando minh’alma, liberando minhas mônadas, fluindo como éter, transcendendo este corpo/mente dimensional em Vibrações Inteligentes que Beneficiassem a Existência...
Entendeu agora, o motivo por que te escrevo? Foi a VIBE cênica de Vitorino/Wellington/Nathan que transpassou meus “eus” espectador/artista/professor e me inebriou com o doce enlevo daquela existência de um intelectual/docente, narrada em palavras, gestos e muitas emoções...
Portanto, convido-te, assim como eu, a ser arrebatado de puro corpo inteiro!
Robson Lima Timon-MA, 17 de agosto de 2021